Oi, K.! Juntei todas as suas perguntas, pois elas têm vários pontos em comum, que precisam ser respondidos ao mesmo tempo. Depois, lhe dou respostas específicas para cada passagem, ok?
- Para começar, é importante entender que, como qualquer outro livro, a Bíblia precisar ser lida como um todo. Ou seja, você não pode “pinçar” uma passagem e tentar entender o sentido de forma isolada. Precisa ver o que veio antes e o que vem depois dessa passagem. Isso se chama considerar o contexto. Notei que você simplesmente pegou algumas passagens isoladas (talvez você as tenha visto em algum site feminista ou ateísta?). Você já leu a Bíblia inteira alguma vez? Já a estudou como uma obra completa, e não como se fosse uma “colcha de retalhos”? Se você nunca fez isso, é bem natural que várias passagens pareçam super esquisitas mesmo!
- Além disso, é importante entender que os livros da Bíblia foram escritos ao longo de vários séculos, em épocas e sociedades muito diferentes das nossas. Isso significa que precisamos entender a história e a cultura por trás dos textos bíblicos para compreender o significado desses textos. A consideração do cenário mais amplo exige bastante estudo, tempo e esforço, motivo pelo qual talvez alguns pastores não preguem tanto sobre os aspectos históricos e culturais da Bíblia.
- Para entender qualquer texto bíblico, também é importante saber que a Bíblia foi escrita por vários autores. Todos eles foram guiados e inspirados por Deus, mas deixaram no texto marcas de sua personalidade e da forma como viam o mundo.
- E, por fim, ao estudar a Bíblia, precisamos entender que Deus nos criou e, portanto, ele tem todo o direito de dizer como devemos viver. Ele não é um Deus tirano, cheio de ira, à espera de que cometamos um erro para nos castigar. Ele não tem prazer algum em qualquer tipo de sofrimento, exploração ou opressão. Pelo contrário, Deus odeia todas essas coisas. Ao mesmo tempo, ele é muuuuito mais sábio e poderoso que nós e sabe o que é melhor para nós. Quando ele nos dá uma instrução, não é para nos prejudicar, mas sim, para promover nosso bem-estar presente e eterno.
Tenha esses quatro itens em mente ao ler as explicações para as passagens.
- Levítico 15.19-24: Essa passagem faz parte de uma porção de leis sobre pureza e impureza cerimonial. Primeiro, é importante entender que impureza não tem absolutamente nada a ver com sujeira. As versões que trazem “imundície” e “imundo” não refletem corretamente a ideia em questão. Impureza cerimonial significava apenas que a pessoa não podia participar de certos rituais religiosos.
O livro de Levítico é um conjunto de instruções de ordem religiosa/espiritual e também de ordem prática. Do ponto de vista espiritual, Deus havia chamado Israel para ser seu povo e para ser diferente dos outros povos ao redor. Essa diferença devia ficar evidente em todas as áreas da vida. Do ponto de vista prático, muitas das leis tinham a ver com higiene, saúde e bom convívio em comunidade. A lei sobre a menstruação por exemplo, tinha implicações bem práticas de higiene numa época em que não existiam absorventes descartáveis. Além disso, de certa forma, era um favor para as mulheres, porque permitia que tivessem um tempo de mais privacidade e até de descanso nos dias de desconfortos naturais da menstruação.
Vale lembrar que leis parecidas diziam respeito à ejaculação e a secreções do homem. Portanto, não há nada de machista nessa passagem. Muito pelo contrário, ela demonstra consideração pelas mulheres.
- Salmos 137.9, Deuteronômio 21.18-21 e Mateus 15.4: Para começar, o versículo de Salmos não tem nada a ver com as outras duas passagens. Salmos 137.9 traz as palavras de pessoas (e não de Deus) que estavam profundamente magoadas com uma situação de escravidão e opressão. Elas expressam de forma poética (não necessariamente literal) o desejo de que seus opressores também sofressem. Isso não significa, de maneira alguma, que Deus aprova essa ideia ou mesmo a ordena. Se você ler o Antigo Testamento como um todo, vai entender em que situação esse salmo foi escrito.
Mateus 15.4 é, na verdade, uma referência a instruções de Deuteronômio. De novo, é preciso enxergar a Bíblia como um todo – Antigo e Novo Testamento. Em Mateus 15, pessoas super religiosas estavam fazendo bonito na “igreja”, mas deixando os pais passarem fome e ficarem abandonados. Daí a lembrança de que era necessário cuidar dos pais.
E a instrução de Deuteronômio, embora seja dura, era compatível com a legislação de vários outros povos da época (não foi uma invenção de Israel). Não se aplicava a uma criança malcriada ou rebelde. Ela se referia a filhos adultos que estavam causando sérios problemas para toda a comunidade. Seria o equivalente a dizer aos pais de um traficante e assassino hoje em dia que o filho deles precisa passar o resto da vida preso (“morto” para o resto da sociedade).
Se você ler os Evangelhos, vai ver o profundo amor e cuidado que Jesus nos ensinou a ter pelas crianças. Efésios 6 também diz que os pais não devem irritar os filhos e que devem educá-los com amor.
- 1Timóteo 2.12-14: Nessa passagem, Paulo está dando a opinião dele (“não permito”, v. 12). Na sociedade daquela época, existiam templos pagãos em que as mulheres faziam previsões e profecias e mais uma porção de coisas esquisitas. Em algumas igrejas, as mulheres estavam tentando impor esses mesmos costumes pagãos e estavam criando o maior tumulto, sem ter respeito por Deus nem por outras pessoas. Por isso Paulo deu essa instrução para aquelas igrejas, e não para todas as igrejas de todas as épocas. A passagem de 1Coríntios 11 entra nessa categoria de costumes e conflitos daquela época. Os princípios, contudo, ainda valem para hoje: ninguém, seja homem ou mulher, deve querer se destacar e manipular outros dentro da igreja – ou fora dela.
Por fim, se você quer saber o que a Bíblia diz sobre as mulheres, você vai precisar estudar (e não apenas ler o que outros falam) e ler com atenção, pois ela diz muitas coisas boas, positivas e animadoras. Para começar, lá em Gênesis diz que Deus criou homem e mulher à imagem dele (Gn 1.27) – ou seja, igualdade total de valor, inteligência, capacidade e tudo mais!
Ao longo de toda a Bíblia, Deus também fala repetidamente que detesta toda forma de injustiça, opressão e violência. E isso inclui opressão e desigualdade em relação às mulheres. Aliás, desde o começo, as leis de Deus para Israel protegiam as mulheres muito mais do que quaisquer leis dos tempos antigos.
Recomendo, ainda, que você leia o Evangelho de Lucas, e veja como Jesus tratou as mulheres. Ele demonstrou imenso respeito e amor por elas. Mulheres trabalharam ao lado de Jesus, para viabilizar o ministério dele (veja Lc 8.2-3, por exemplo). E Atos 16.14 fala de uma empresária rica, chamada Lídia. Priscila também era uma empresária e líder da igreja (At 18) e Júnias parece ter sido uma mulher de grande destaque (Rm16.7). Infelizmente, algumas igrejas não falam muito sobre isso, mas esses são apenas alguns dentre muitos exemplos de igualdade das mulheres numa época em que o feminismo ainda nem existia!
Para terminar, em Efésios 5.21, antes de dar instruções para esposas e maridos (esse é um assunto para outra conversa), o apóstolo diz “sujeitando-vos uns aos outros no amor de Cristo” – homens sujeitando-se a mulheres (e vice-versa)! Na época em que Paulo falou essas palavras, essa era uma ideia revolucionária. E Paulo também disse que, dentro da família de Deus, não há mais distinção de nenhum tipo (veja Colossenses 3.11).
Diante disso, o que você acha? A Bíblia é machista ou será que é usada incorretamente por alguns como desculpa para o machismo?
Incentivo você a ler a Bíblia da forma como expliquei acima. Continue a estudar, continue a questionar. Se você buscar a Deus (que, aliás, não é homem nem mulher, mas tem características de ambos!) com atitude de humildade, ele vai lhe mostrar o caminho!
E, sempre que quiser conversar, estamos aqui!
Kisses,
Su