Hello, D.! Não sei se serve de consolo, mas eu me identifico plenamente com todos os seus questionamentos. Em algum momento, já levantei todos eles. E muitos continuam presentes. Vou compartilhar como estou tentando lidar com esses desespero.
Uma coisa que tem me ajudado é lembrar que nosso mundo está morrendo. Deus restaura pessoas, reconstrói vidas, resgata almas. E, na eternidade, ele dá um corpo glorificado (ligado, de algum modo, ao corpo que temos hoje). Isso é o que ele faz com os seres humanos. Em relação ao mundo, a Bíblia é bem clara: quando Jesus voltar, vamos ter novos céus e nova terra. Deus não vai dar uma ajeitada neste mundo. Ele vai recriá-lo. A gente não sabe exatamente como isso vai acontecer, mas dá para entender que vai ser uma mudança radical, profunda – muito possivelmente uma destruição total do que temos hoje para começar do zero.
Nosso mundo, em seu presente estado se encontra, portanto, em “cuidados paliativos”. Não tem cura. A doença é terminal. O que a gente pode fazer é procurar “paliar” – amenizar o sofrimento, abrandar a dor, dar algum conforto. Mas precisamos entender que esse é um trabalho de formiguinha – um pouco a cada dia, no âmbito ao nosso redor. Achei muito legal você reconhecer que “não tem nada grandioso o suficiente a se fazer”. É verdade. Confie que Deus sabe disso. Ele está ouvindo a natureza gemer debaixo do peso do pecado coletivo da humanidade (Romanos 8.22). E ele sabe o tempo certo de intervir.
Mas quais são as pequenas coisas que podemos fazer hoje? Como você identificou, todas elas passam pelo âmbito do desejo. Precisamos reconhecer nossos desejos e pedir para Deus refreá-los. Por que ter duzentas roupas no armário se dá para viver com vinte? Por que buscar um sabor novo se podemos pedir que Deus nos ajude a redescobrir a delícia e o prazer de sabores simples, conhecidos? Nosso anseio por novidade e quantidade, nossa ilusão de que essas coisas satisfazem é um dos motivos pelos quais o mundo está nesse estado. Felizmente, temos um Deus que supre todas as nossas necessidades e satisfaz (no tempo e do jeito dele) todos os nossos anseios – desde que os sujeitemos a ele.
Podemos, portanto, nos esforçar para manter o consumo no mínimo. Tentar comprar coisas novas muito raramente, quando necessário – e não quando dá vontade. A vontade a gente apresenta para Deus e pergunta o que ele quer fazer com ela. Um movimento interessantíssimo para estudar é o minimalismo. Para não radicalizar, eu diria “reducionismo”. Com auxílio do Espírito e sabedoria do alto, reduza o consumo. Reduza a busca por satisfação em coisas. Pesquise antes de comprar. Por exemplo: escolhi um celular produzido no Brasil, em um lugar com fiscalização trabalhista um pouco mais rígida. Sim, as partes vêm de outros lugares, mas é “dos males o menor”. Meu plano é mantê-lo por vários anos, como os anteriores.
Se algo tem conserto, não compre outro. Escolha roupas de boa qualidade, feitas aqui mesmo, que não saem de moda. Se possível, pesquise produtores locais de pelo menos alguns alimentos. Reduza, reuse, recicle. E lembre-se: em algum lugar da cadeia de produção, seja lá do que for, vai ter algo muito errado. Em um mundo afundado em pecado, nada é produzido sem pecado. Mas, tudo o que é obtido de modo honesto, sem cobiça, com gratidão, pode ser abençoado por Deus.
Ore pelas pessoas que cultivam seus alimentos. Peça bênção de Deus sobre os trabalhadores que produzem aquilo que você consome. Peça convicção do pecado para aqueles que exploram o trabalho alheio. Divida com outros o que você tem. Ajude ONGs que cuidam de pessoas, de animais, da natureza. Confie que Deus vai lhe dar sabedoria na hora de fazer suas compras e escolhas. Confie que ele não abandonou este mundo e que ele ainda está sustentando sua criação. Deus é mais poderoso que todos nós juntos. Jamais seremos capazes de destruir coisa alguma sem permissão dele.
Para nós, cristãos, o presente estado das coisas é um misto de tristeza e expectativa. Deus está permitindo que a cobiça e o pecado destruam a criação dele para que, no devido tempo, ele faça uma nova criação – sem pecado, sem dor, sem tristeza.
Enquanto isso, vivemos na dependência dele, confiando que ele pode e vai nos mostrar de forma pontual, diária, como conviver com esses questionamentos. Os meus ainda não sossegaram completamente. Às vezes sinto culpa quando compro algo (seja necessário ou não) quando, na verdade, deveria sentir apenas profunda gratidão. Mas, no tempo dele, Deus vai trabalhar nisso também. Sejamos pacientes conosco mesmas, confiantes no Deus Criador e Sustentador e fervorosas em nossas “cuidados paliativos” do mundo.
Kisses,
Su