Pergunta:

Querida Su, como você está? Espero que esteja bem :) Agradeço pelas suas duas últimas respostas, obrigada pela atenção e amor ao responder. Estou com um turbilhão de sentimentos e me sinto assustada com eles. Tem uma música que diz ” Muitas pessoas fazem uma única coisa por toda a vida, esse pensamento me dá arrepios, tem tantas coisas que eu quero fazer”. Não sei se te contei, mas quero ser médica desde os 6 anos de idade. Mesmo assim, meus melhores resultados não são em biologia. Coisas como escrever, ler, buscar significados sempre foram mais a minha praia. Eu já estou decidida a não ser médica para o resto da vida. Me interesso de verdade por dublagem e atuação, e há anos tenho vontade de escrever um livro (inclusive comecei os esboços, mas tem sido um pouco complicado porque tenho vontade de unir três histórias), gosto da ideia de aprender mais sobre política, psicologia, e desejo desenhar bem porque é muito ruim imaginar um desenho legal e não conseguir reproduzir por ignorância. Tem um lugar no Japão que quero conhecer, quero ser missionária, quero participar do médicos sem fronteiras. Tenho me perguntado se medicina, depois de todas essas vontades que tenho, é realmente o caminho que devo seguir. Para você ter uma ideia, meus colegas que já tem noção do que fazer na vida, pesquisam à beça sobre os assuntos que gostam. Eu não fico pesquisando sobre medicina. Eu gosto de ouvir coisas que abrem minha mente, me fazem repensar sobre quem eu sou. Mesmo com essa dúvida que surgiu agora por esses dias,eu ainda desejo ser obstetra. Eu fico muito satisfeita quando penso em ajudar uma criança a vir ao mundo. Fico satisfeita de ajudar. É isso que uma obstetra faz. Ela ajuda. Ela não é o centro das atenções, é uma coadjuvante, necessária é claro, mas uma coadjuvante. Eu me sinto bem nesse papel.Eu me sinto feliz com a ideia de que como médica com um bom salários, vou poder ajudar muitas pessoas com meu dinheiro. Instituições, orfanatos, hospitais, alguma criança/ adolescente que esforçado. Por favor, não pense que eu quero fazer isso pelo dinheiro principalmente. Ele sem dúvidas é importante e foi por isso que o considerei na hora de te escrever. Parece que sendo médica, vou ver o efeito da minha ajuda quase que instantaneamente. Quando se escreve um livro por exemplo, não se sabe que tipo de efeito isso causará no coração de cada um, mas uma parturiente bem tratada mostra gratidão em seu rosto e em suas palavras. Como disse uma médica ” O paciente só vai ao médico no seu pior momento” Aquela pessoa ali está no seu pior momento. Quero poder ajudar alguém assim. Ouvir. Tem isso também. Você sabe, eu quero ajudar no CVV assim que for possível, mas será que terei tempo? Depois de todo esse desabafo, (estou realmente me sentindo estranha por ter falado sobre o dinheiro…) eu fico pensando como vou poder fazer todas as coisas pelas quais me interesso? Também estou com medo. O ENEM para valer é no próximo ano e não me sinto preparada. Encontrei algumas plataformas de graça na internet. Eu pedi para minha mãe pagar um desses cursinhos online ( são bons e baratos ), mas ela me fez pensar numa coisa. Como você sabe eu sou meio devagar, com o tanto de conteúdo que a escola terá ano que vem, mais a plataforma de apoio que ela já dá, será que eu vou ter tempo para um cursinho? Não dá para me comparar com os outros. Os outros NA MAIORIA ESMAGADORA DAS VEZES terminam as coisas rápido. Eu NUNCA fui assim. Para você ter uma ideia, quando eu tinha 4 anos, a professora deixava sair para brincar no recreio quem terminasse de comer o lanche. Eu fiquei inúmeras vezes na sala de aula porque era a última a terminar, muitas vezes nem dava para ir brincar, pois quando eu acabava o recreio se encerrava também. Nas provas, eu sou normalmente a última a terminar. Todas aquelas provas de que te falei na última mensagem, não devo ter sido a última em 4 aproximadamente de 21 delas. Ser esse tipo de pessoa me decepciona. Eu sei que sou devagar porque quando olho ao meu redor, aqueles que estudam como eu parecem muito produtivos, mas eu não. Estou com medo de não conseguir entrar na faculdade. Estou com medo de não vivenciar meus outros sonhos, minhas outras vontades. Eu tenho aprendido tanta coisa legal sobre psicanálise e política pelo o YouTube. Não suporto a ideia de ter que largar essas coisas para focar só num vestibular, como se fosse a coisa mais importante do mundo. Ao mesmo tempo que sinto tudo isso, parece que eu posso muito bem vivenciar todas essas coisas legais e entrar na faculdade que eu quero (as vezes não me sinto animada, mas às vezes me sinto animadíssima, com cada uma dessas vontades que te falei). A professora me disse para aumentar minha carga horária de estudos para 6 no ano que vem. Eu não sei porque as pessoas vêem tanta capacidade em mim e eu mesma não enxergo isso. Não me acho tão incrível, tão legal. E entro noutro assunto por causa disso. Tenho tentado melhorar minha postura ao andar (não quero ficar com dor nas costas ou corcunda quando for mais velha), mas me sinto meio…metida, quando faço isso, então quando me dou conta, estou com os ombros caídos outra vez. Nesse exato instante, tenho certeza que vou fazer medicina e acredito que vou passar de primeira. Em outros momentos, duvido disso. Mais uma questão: aquele meu professor de história se ofereceu para ajudar os alunos a montarem um plano de estudos, e a de inglês também. Uma das minhas colegas já aceitou ajuda do professor. Como queremos a mesma faculdade, tenho um pouco de receio de pedir ajuda para ele e parecer que estou competindo com ela. Sei que você já me ajudou nas férias desse ano, e muito obrigada pelas dicas. Acredite em mim quando digo que também busco ajuda por conta própria, mas você poderia, por favor, me ajudar mais uma vez? É que as férias de alguém que vai para o terceiro ano são diferentes das de alguém do segundo. As férias de uma pessoa do terceiro exigem uma responsabilidade maior. O professor disse para minha colega estar eliminamdo de uma a duas matérias do ano que vem estudando todos os dias um pouco. Pensei nisso também. Tem uma moça no YouTube que dá umas dicas bem legais. Ela diz sobre fazer provas antigas e listas de exercícios. Quero começar isso nas férias. São essas as minhas questões. Acho que misturei um pouco as coisas, mas espero que tenha dado para entender. Obrigada por tudo até aqui :* :* D. P.s.: eu estou orando sobre tudo o que falei. P.s.2: acho muito legal ter conhecimento, por isso fico chateada de pensar em um ano muito restrito a conhecer só o que a escola ensina. P.s.3: vou conversar sobre isso com minha mãe também. P.s.4: você tem dicas para eu aproveitar bem meu último ano escolar?

Resposta da Sú:

Hello, D.! Sempre bom encontrar você aqui 🙂

Li e reli o que você escreveu e, na verdade, as questões não estão misturadas – elas estão entrelaçadas. Noto pelo menos três coisas em suas observações:

1 – Você tem muitos sonhos, planos e desejos, e tudo isso parece mover-se dentro de sua mente em um ritmo que seu corpo não consegue acompanhar.

2 – Você se compara com outras pessoas e isso causa frustração.

3 – Você acredita que fazer mais (de preferência em menos tempo) é, necessariamente, ser mais produtiva.

Vejamos um item de cada vez.

1 – Entendo como é ter o desejo de atuar em vários campos de conhecimento, pois também tenho grande interesse em diversas áreas. Houve um tempo em que quase entrei em parafuso de pensar que não poderia desenvolver todas as aptidões e projetos que gostaria. Aos poucos, Deus está trabalhando isso de duas maneiras em minha vida (e tenho convicção de que fará o mesmo por você): (a) Ao longo do caminho, ele tem criado oportunidades de juntar esses interesses todos de maneiras surpreendentes. Confie que ele fará isso em sua vida e descanse nesse fato – sem ansiedade, crendo que ele vai juntar todas as peças desse quebra-cabeça no devido tempo. Ele sabe como vai usar sua vida para ajudar outros também (seja com muito ou com pouco dinheiro; veja a história da viúva em Lucas 21.1-4). (b) Deus está me ajudando a entender que a eternidade será o “tempo/lugar” em que desenvolveremos um zilhão de aptidões ao máximo, simplesmente para glorificar a Deus e nos alegrarmos na presença dele. Poderemos explorar o Universo todo, estudar coisas que nem sabemos que existem – para sempre!. Quando penso nisso, fico super empolgada com a vida no céu!

2 – Eu sei que talvez você tenha, de fato, um ritmo diferente de outros. Não é nada construtivo, porém, você persistir nessas comparações. Elas não a tornam mais ágil; pelo contrário: elas geram ansiedade, fazem você se cobrar mais, produzem cansaço e, muito provavelmente, tornam-na ainda mais lenta. Forma-se um círculo vicioso. Você já pensou que esse ritmo talvez faça parte da forma como Deus a criou e que pode ter propósitos específicos? O fato de você ser mais “lenta” também lhe permite ser mais introspectiva e muito mais perceptiva do que uma porção de adolescentes que eu conheço (falando em comparações… kkk). Minha sugestão é que você comece a orar para que Deus lhe mostre se você deve aceitar isso como dádiva dele, em fez de ficar se forçando e se comparando… e se frustrando. E esses dois itens nos levam ao terceiro.

3 – Fazer mais em menos tempo não é necessariamente ser mais produtiva. Não devemos medir nossa produtividade de acordo com aquilo que nós mesmas (ou o mundo ao redor) determinamos, assim como precisamos aprender a não medir sucesso conforme os padrões da sociedade. Nosso único parâmetro absoluto deve ser Deus, e os planos que ele tem para nós. De novo, é uma questão de confiar que ele nos dará a medida de produtividade e sucesso que ele achar necessária e que talvez fique muito aquém (ou muito além!) dos alvos que estabelecemos para nós mesmas.

Diante disso, meu  conselho para você tanto nas férias como no terceiro ano (um conselho que eu gostaria que alguém tivesse me dado e que houvesse tido a sabedoria de aceitar, rsrs) é este: Aproveite! Nas férias, reserve pelo menos 50% do tempo para verdadeiramente descansar e se desconectar completamente de estudos. Nosso cérebro precisa desse reboot ocasional e isso nos ajudar estudar e trabalhar com mais qualidade e com menos esforço. Se possível, divida sua férias em duas partes: um número X de semanas para revisar matérias (especialmente aquelas que você tem mais dificuldade) e um número Y de semanas para não fazer nada que tenha a ver com escola (sendo, preferencialmente, Y = X). De novo, é um exercício de confiança em Deus. Nesse aspecto, gosto de Salmos 127.1-2.

Quanto ao terceiro ano, peça ajuda de Deus para não ser sugada pelo vórtice de cobranças externas e internas e para dedicar seu tempo às prioridades dele. Esse é o segredo de ser verdadeiramente produtiva. Eu sei que o que estou lhe dizendo parece meio “etéreo”, pouco prático, mas lhe garanto que, se você perguntar para Deus o que isso significa na sua realidade, ele vai mostrar, um passo de cada vez.

Lembre-se sempre que Deus o primeiro e maior motivo pelo qual Deus criou você não foi para servi-lo, para ajudar outros, para pregar o evangelho, etc. Deus criou você, acima de tudo, para curtir a presença dele e fazer tudo, seja muito ou pouco, depressa ou devagar, imersa no amor e na graça dele.

Entendo que talvez estas não sejam as dicas específicas que você gostaria, mas estes são os fundamentos.

Até a próxima!

 

Kisses,

Su